Eveline


Amanheço, quarto escuro, música tocando baixinho, dizendo  “Let me come over I can waist your time I'm bored. Invite me to the war every night of the summer”…

Café quente, cachorro querendo brincar.  Há um falso outono por aqui e por vários motivos não gosto de verão. Há também um certo inverno ausente que me aquece. Há uma música que não para de tocar do lado de dentro e ela tem cor indefinida. Há a vontade colorir que amanheceu comigo.
Queria que o relógio retrocedesse, que o que é dia virasse noite. A noite parece sempre me guardar e me aguardar. Às vezes, as horas correm demais, e corro pra o lado de dentro do que não sejam os minutos. A direção dos meus ponteiros parece não ser a mesma do que o tempo estabelece.
 Escrevo, mas quero linhas que ainda não vieram, que ainda dançam no ar, perdidas com palavras desencontradas que esperam um arranjo como o de quase ser uma música. Vivo entre palavras e sons, cores e sabores. É assim que horas, cheia de entrelinhas, me atravessam,  “looking for somewhere to stand and stay”.
A escrita me puxa, mas esse relógio distorcido chamado vida não deixa, parece que a cada palavra escrita, um ponteiro corre querendo, desesperadamente, encontrar o outro. E então, vem uma imagem: de qualquer coisa que alivia, de coisa azul, de jardim, de sorriso, de piquenique em parque em fim de tarde de outono. Então, “hang your holiday rainbow lights in the garden and I'll...I'll bring a nice icy drink to you…"

Eveline.